Os textos seguintes são uma síntese em forma de lição abordando as questões relevantes da leitura no currículo escolar. São textos estruturados em dez lições publicados na Revista Direcional Educador (Editora Leitura Prima), a partir de março de 2016.  
     
 

MANUAL SOBRE LEITURA
Manual quase completo sobre questões básicas do currículo escolar: formar-se leitor, mediar leitura, mediação, formar leitores aprender a gostar de ler, criar espaços de leitura e escolher acervos.

LIÇÃO 1

Dicas para você
FORMAR-SE LEITOR

1.Tenha certeza disso: só se ensina o que se sabe
Não sem razão, o Professor Paulo Freire nos alertava com frequência de que devíamos ser sujeitos, cada qual, de sua própria prática pedagógica. Embutida nesta afirmação está a noção de que quem não sabe faz o que os outros determinam. Quem sabe faz o que sabe, como sabe. Daí é possível entender que ninguém consegue ensinar o que não sabe. Não pode ocorrer ensino no vazio de conhecimento. Esta é a questão mais básica de todas no trato com a leitura: se você não é leitor, terá sérias dificuldades para ensinar alguém a ser leitor.

2.Pense nisso: gostar do que se ensina é fundamental
Pode parecer bobagem, mas não é. Todas as ações compromissadas com o afeto, com o amor e com o respeito são decisivamente mais bem sucedidas. Quando se faz algo meramente pela obrigação de fazer, o resultado é um. Quando se faz algo com o compromisso da amorosidade, o resultado será outro. Na escola e na vida. Você consegue imaginar a dificuldade uma pessoa que não gosta de ler terá para ensinar alguém a gostar de ler? Pais que não gostam de ler dificilmente terão filhos leitores; educadores que não gostam de ler dificilmente passarão o gosto pela leitura a seus alunos. Penso aqui comigo como deve ser bom aprender a gostar de ler com o José Benedito Brito – Bené, camarada lá da Paraíba, que tem um enorme prazer no gostar de ler. Ele certamente ensina sua turma como é bom gostar de ler porque tem conhecimento disso.

José Benedito de Brito (Bené) é Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPB, atua na rede pública e privada de ensino do Estado da Paraíba, é poeta e desenvolve ações de estímulo ao gosto e fruição literária na Região Metropolitana de João Pessoa, local onde reside.

3.Assuma a sua responsabilidade: todo educador deve ser necessariamente um leitor
Ser educador impõe a cada um de nós algumas responsabilidades das quais não podemos fugir. Uma delas é esta: gostar de ler e ser leitor. Não há como se desviar dessa conduta. A leitura na vida do educador é condição essencial. É lendo que um educador se forma leitor, se fortalece como educador e se constrói como cidadão informado e crítico. É como leitor formado que poderá orientar, ajudar e mostrar caminhos para seus alunos também eles se formando leitores. A leitura do mundo e da palavra é a base de uma boa formação pedagógica. Ler é caminho sólido para uma boa formação profissional. Quem sabe faz a hora, escreveu e cantou o poeta Vandré; quem lê sabe o que faz na hora que precisar.

4. Duvide de projetos pedagógicos que não têm a leitura e a escrita como seu norte, seu prumo, sua régua e seu compasso

As coisas escolares, o projeto pedagógico da escola entre elas, não precisam ser complicadas e complexas e prolixas. Bastam ser claras e objetivas. A leitura e a escrita são os objetos de ensino e aprendizagem na escola. Esta é a sua tarefa precípua. Isto é da natureza da escola. Se no projeto pedagógico da escola a leitura e a escrita são periféricos, proponha rediscutir essa questão e colocá-la no centro da discussão. Considerar a formação dos educadores como leitores e sua tarefa essencial de formar leitores é o centro dessa roda viva. Deve ser da natureza da escola ser um ambiente leitor. A língua é a régua e o compasso com que abordamos os temas e conteúdos escolares.

5.O diálogo do aprendiz de leitura é com o texto
Elementar, meu caro Watson, diria Sherlock Holmes, assim como o diálogo do aprendiz natação é com a água, do aprendiz de corridas é com a pista livre, do aprendiz de medicina é com a anatomia e funcionamento do corpo, o diálogo do aprendiz de leitura é com o texto. É nas linhas e entrelinhas, nos pontos e nas suspensões, na gramática da frase e na escolha das palavras, na metáfora e na objetividade que o aprendiz de leitura vai desenhando o seu caminho de leitor, criando, aqui e ali, as anotações necessárias para se formar leitor. É no texto, em sua porosidade que acata as significações, que cada leitor vai se constituindo. Textos, múltiplos em seu formato, em seu gênero e em sua plurissignificação, são o corpo e a alma da escola.

6.Crie o seu próprio método de leitura
Leitura é como escrever uma carta de amor: cada um terá e fará suas escolhas. Cada um pode e deve desenhar o seu modo de ler ou o seu jeito de ler, como quiser. Vale anotar nas margens das páginas, em papéis soltos ao longo do texto/livro, em fichas de leitura, em um caderno de anotações ou no meio do texto, com realces coloridos na tela das diversas mídias. Vale o que cada um quer fazer para deixar marcas, pistas, realces, dúvidas, perguntas, espantos e maravilhamentos. Cada um do seu jeito. Como fazia (talvez ainda faça) minha querida amiga Áurea Alencar, uma das pensadoras do programa Prazer em Ler, parceria do CENPEC e do Instituto C&A, inúmeras anotações, todas feitas a lápis e bem legíveis ao longo das páginas limpas do livro. Que delícia ler um livro emprestado dela, mapeando o seu caminho de leitora, andando por suas anotações, fazendo às vezes outras leituras paralelas a partir de suas anotações.
Áurea Alencar, pernambucana de origem, paulista de nascimento, carioca por adoção, é psicóloga, psicanalista e uma das idealizadoras do Movimento por um Brasil Literário. Foi membro da equipe coordenadora e gestora do programa Prazer em Ler, do Instituto de Educação C & A.

7.Construa o seu próprio acervo básico
Isso é ótimo e bom e gostoso e gratificante. Escolher o que você vai ler faz parte de sua identidade, de sua independência, da prova de sua autonomia. Não se trata de acúmulo inútil, mas de formação de um acervo básico. Todos dizem por aí que nós somos o que comemos. E diria que nós somos o que lemos. A leitura é o que nos dá substância para entendermos e mediarmos o mundo em que vivemos. Não se importe em misturar estilos, autores, formatos, gêneros e temas. A vida é mesmo plural. Muito mais do que supomos. Tenha o seu acervo e faça-o circular.

8.Crie janelas no tempo para ler
Uma das desculpas mais “esfarrapadas” que podemos ouvir dos ainda-não-leitores ou dos não-leitores é a de que não têm tempo para ler. Desculpa, nada mais do que desculpa. O tempo é uma das poucas dimensões desta vida de que podemos dispor em favor próprio. O tempo é de cada um; e cada um pode dispor do tempo como quiser, planejando-o, gastando-o, usando-o, vivendo-o. E mesmo quando a desculpa for verdadeira, sempre haverá uma possibilidade de se criar uma janela no tempo e nela atravessar. Nessa outra dimensão, o tempo para a seu favor e você poderá usá-lo para ler tudo o quiser.

9.Reflita sobre suas leituras. Converse com outras pessoas sobre o que você leu ou está lendo
Nenhuma leitura é inútil. Toda leitura – da bula de remédio ao best-seller, passando pela Bíblia e pelos documentos formais do currículo escolar – é informativa, provocativa, declarativa, etc. Toda leitura pressupõe um mínimo de disposição do leitor para o conteúdo ali veiculado, uma troca de significações e novos olhares resultantes dessa aproximação. Melhor ainda: converse com pessoas próximas sobre o que foi lido, abrindo uma troca de impressões, de informações. O olhar e a fala de ontem melhoram o entendimento de hoje. No amanhã caberão novas leituras, novas conversas, novas trocas.

10.Abra espaços e tempos para leitura e conversas sobre leitura em seu ambiente escolar
Tente criar espaços e tempos de leitura em seu ambiente de trabalho. Um mural aqui, uma capa de livro ali, uma resenha acolá. Um chá com livros, em que as pessoas se disponham a falar de leituras entre goles de chá, café ou qualquer outra bebida. Recitais de poemas. Sarau literário. Livro do mês.
Assim, formando-se leitor – se ainda não é – será mais fácil e prazeroso formar leitor e leitora o seu aluno e a sua aluna.

 
     
 

MANUAL SOBRE LEITURA
Manual quase completo sobre questões básicas do currículo escolar: formar-se leitor, mediar leitura, mediação, formar leitores aprender a gostar de ler, criar espaços de leitura e escolher acervos.

LIÇÃO 2

Propostas para você pensar
A LEITURA NO CENTRO DO PROJETO PEDAGÓGOCIO DA ESCOLA

1.O projeto pedagógico da escola: envolvimentos
O projeto pedagógico de uma escola é a sua identidade, sua cara, o seu RG. É o seu script, a sua carta de intenções. É o seu roteiro de viagem. É o seu mapa do tesouro. Nele estão escritas as metas e objetivos do grupo de educadores, aí inscritos todos os que estarão na linha de frente da execução, do diretor ao inspetor de alunos. Aí estarão indicados os conteúdos, as habilidades e as atitudes de todos: dos que também ensinam e dos que também aprendem. Indicados também devem estar os recursos disponíveis para essa trajetória: não se bebe água sem uma cuia ou palma de mão ou caneca ou copo ou cantil ou garrafa.
O projeto pedagógico da escola é o seu programa de governo, o seu guia, o seu porto de chegada e de partida. Quanto mais pessoas da comunidade escolar tomarem conhecimento e participarem da construção do projeto pedagógico da escola melhor e mais fácil será o caminho da realização. Saber onde se quer chegar pois, caso contrário, como ouviu Alice, perdida-encontrada em seu país das maravilhas, “quando não se sabe aonde se quer chegar qualquer caminho serve...”

2.Abrir a discussão:onde está a leitura no projeto pedagógico da escola?
Se partirmos do pressuposto de que o projeto pedagógico da escola é a sua carta de princípios, a sua carta magna, é lá que se vai registrar o que se pensa sobre a leitura, o seu papel no currículo escolar, na vida dos educadores. Salvo engano, a leitura deve ser a base de todo o esforço pedagógico da escola: é a experiência fundamental, embora não seja a única, de se entender o mundo. Sendo assim, a pergunta principal (e formular boas perguntas é sempre um bom caminho para se chegar a boas respostas, como preconizava Paulo Freire) a ser feita a todos os envolvidos no projeto pedagógico da escola é esta: para que serve a leitura na escola? Ao responder, o caminho será feito. A leitura serve para ensinar e aprender. E tantas outras coisas...

3.Ação coordenada: a leitura como elemento de formação dos educadores
Um dos princípios (no sentido de atitude fundamental diante de alguma coisa) do projeto pedagógico que reconhece a importância da leitura na escola é entendê-la como “elemento de formação de educadores”. Isto posto e acatado por todos, há de se pressupor que a leitura (de todo e qualquer texto) será sempre o elixir da vida da formação profissional do educador. Será pela leitura que o educador buscará novos conhecimentos, mesmo que tenha que questioná-los ou criticá-los adiante; será pela leitura que o educador criará o seu fazer pedagógico; será pela leitura que o educador entenderá melhor o mundo em que vive e poderá discuti-lo com seus pares e alunos. Será pela leitura que o educador compreenderá sua história e sua história dentro do mundo em que vive e assim ajudar a reescrever a história do mundo.
Impossível imaginar um educador que não seja leitor e que não tenha a leitura como sua irmã siamesa.

4.A leitura como motor da aprendizagem
Aprende-se pela vida inteira, o tempo todo e de várias formas. A escola é uma das instituições onde aprendemos (além da família, da igreja, do trabalho, do grupo de amigos, da biblioteca, etc.), pois é pensada essencialmente para isso. Além da socialização e da descoberta de tantos outros universos, é na escola que vivemos momentos especialmente pensados para aprendermos a história e a cultura de nossa civilização. É também na escola que aprendemos de muitos modos. Um deles, cujo local especial de aprendizagem é a escola, é a aprendizagem da leitura (e escrita). E a leitura tem essa duplicidade em sua natureza: aprendemos a ler para aprender mais. Sendo assim, nunca teremos limite para a aprendizagem da leitura. Pelo contrário, quanto mais sabemos ler, mais saberemos como aprender. A leitura é o motorzinho da aprendizagem. E a escola é o local preferencial de aprendizagem da leitura, posto que uma gama imensa de outras aprendizagens será vivida pelo instrumental estratégico de leitura que conseguirmos aprender na escola. Daí que ler, sempre e bastante, nunca será demais.

5.A leitura é compromisso curricular de todos
Vai longe o tempo em que a leitura era exclusividade dos professores alfabetizadores e dos professores de língua portuguesa. Bem longe. Essa atitude cômoda e de pouca responsabilidade ficou para trás. Atualmente, a leitura está no centro da conversa pedagógica e a responsabilidade por seu ensino, pelo desenvolvimento do gosto e pela formulação de estratégias de leitura é de todos os que se envolvem no projeto pedagógico. Não importa a origem do educador, sua formação acadêmica, seu jeito de pensar a educação, sua jornada, sua turma, seu componente curricular... Importa mesmo é saber que a leitura é compromisso de todos na escola. Formar-se leitor, formar leitores, selecionar material de leitura, incentivar a leitura, formular estratégias curriculares de leitura... Enfim são ações de todos para todos na escola.

6.Os diversos espaços de leitura na escola
Escola é um espaço aberto. Um grande espaço aberto. Muitas vezes mal ocupado e distribuído. Se não nos ocuparmos de preencher os espaços escolares com atividades estes serão ocupados por um balcão assistencialista. A escola tem que se ocupar em criar um ambiente leitor. Toda a escola tem que ser um ambiente leitor. Por onde andar, o olhar deverá ser direcionado para informações, cartazes, capas de livros, quadros de mérito, de redações escolares... Além da biblioteca escolar ou da sala de leitura, espaço obrigatório em qualquer escola que se preze como tal, as salas de aula podem ter o seu cantinho de leitura. A sala dos professores, além de ser contemplada com um mural informativo, deve abrir espaço para um acervo de formação. Neste mural, troca de impressões sobre leituras e/ou dicas de leitura deverão ser constantes. Lembro-me do acervo colossal que duas coordenadoras pedagógicas com quem trabalhei na EMEF Carlos de Andrade Rizzini, SP, Vera Lúcia Moreira e Deizi Terezinha Delovo, tinham em sua sala. Qualquer assunto que demandasse uma leitura mais acurada poderia ser contemplado com livro/apostila/texto disponibilizado por elas. Competência leitora na formação de educadores. E utilização rica do espaço leitor da escola.

Vera Lúcia Moreira e Deizi Terezinha Delovo viveram grande parte de sua experiência na educação pública municipal de São Paulo. Encerraram a carreira como coordenadoras pedagógicas, donas de vasto repertório de projetos curriculares e de formação de educadores. Vera Lúcia somou à sua experiência trabalhos nas ONGs CENPEC e Associação CRESCER SEMPRE. Deizi Terezinha é fundadora e principal formadora do Espaço Tear, com projetos de formação de educadores.

7.Acervo coletivo: o empenho de muitos
Um acervo é um acervo, um substantivo coletivo que reúne quantidade obras. Isso e nada mais. . Um acervo pode existir ou não. Pode ser pobre, miserável ou rico. Um acervo rico, saudável, atualizado e bem abastecido será sempre o resultado do esforço de muitas pessoas, muitos olhares, muito empenho. Parece redundância e é: acervo é um patrimônio coletivo resultante de esforço coletivo. É nesse esforço e empenho coletivos que o acervo vai se moldando e sendo montado: múltiplo, variado, diverso, colorido, plural. O acerto, para além desse esforço coletivo, será o resultado de doações, campanhas, compras, investimentos, planejamento, prioridade e parcerias. Há espaço para parcerias – ainda que muitas vezes isso possa significar que o estado abre mão de investir em educação e cultura e passa a responsabilidade para quem quiser. A união de pessoas interessadas dará o rumo e o ritmo dessa composição. Não esperar a moleza e lerdeza, plena de má vontade do estado, para começar ou continuar, sem nunca desistir de cobrar a responsabilidade do estado na execução de políticas públicas para a leitura.

8.Materiais de leitura: tudo cabe neste detalhe
Também vai longe o tempo em que o único material de leitura que circulava nas escolas era o que vinha no livro didático. Ficou para trás, como ficaram outras concepções estranhas à produção da boa e rica leitura. O mundo é muito complexo, a sociedade é plural, o que ler é variadíssimo. Tudo pode ser material de leitura na escola: da bula de remédio ao livro romântico que introduz questões de educação sexual; do folheto de propaganda política ao livro de poemas do Manuel Bandeira; da notícia de jornal que dá conta da corrupção política no país ao ponto gramatical que esclarece questões pronominais. Pode-se ensinar respeito às diferenças pela leitura de um texto literário; pode-se pensar sobre o meio ambiente a partir de um folheto de uma ONG buscando ajuda; pode-se discutir a vida atual pelos olhos dos pensadores filosóficos da antiguidade.
É possível e desejável ler tudo o que couber na palma da mão, na tela da mídia, no espaço da lousa, na página do livro. E conversar sobre o que foi lido, com a mediação do bom educador. Sem limites, sem amarras, sem cercas, sem censura. Ler “de um tudo” é uma das atitudes mais sábias da vida curricular. Além do prazer de misturar coisas interessantes, gostosas e bonitas.

9.Registro, avaliação e responsabilidades
Estivemos falando de projeto pedagógico, de leitura na escola, de acervo e ações coletivas pela leitura. São assuntos que não brotam em árvores e tampouco caem do céu. Precisam e merecem nossa atenção. Há que se definirem responsabilidades no âmbito da escola, a começar pela responsabilidade individual de cada educador em ser ele mesmo um leitor. O trabalho pedagógico com a leitura na escola deverá envolver todos, ser registrado e avaliado de tempos em tempos. Trazer a leitura para o centro do trabalho pedagógico da escola começa muitos antes de cada vez que cada envolvido, seja aluno, educador ou membro da comunidade, escolhe um livro por iniciativa própria, abre e começa a ler. Muito antes disso, ações de planejamento, de divisão de atividades e tarefas, ações de valorização do texto na vida cotidiana escola e atitude de empoderamento da leitura na escola dão as condições para que a leitura aconteça como algo natural e próprio da escola. A caminho de uma escola leitora.

10.O necessário apoio institucional
Tratar de leitura na escola passa, obrigatoriamente, pelo apoio institucional - dos governos, na escola pública; dos mantenedores, na escola privada . Sem isso, fica muito difícil. Acaba virando obra de uma só pessoa. Não é ruim, mas se avança muito pouco.
Há esforços nas políticas públicas, mas o avanço verificado na prática é muito aquém do que se gostaria e de que se necessita. A Lei Federal 12.244/10 é um desses esforços quase inúteis. Deu prazo até 2020 para toda escola tenha uma biblioteca. E pouco avanço se vê na direção da meta da lei. Caiu no descrédito. Não pegou. O Estado de São Paulo, o mais rico da federação, não tem uma rede de bibliotecas escolares e investe pouco em livros para suas poucas salas de leitura estruturadas. E quase nada na formação dos mediadores.
Alguns estados e municípios aprovam em suas casas legislativas leis com o pomposo nome de Plano Estadual – ou Municipal do Livro, Leitura e Literatura. De nada adianta aprovar leis se não há vontade política para cumpri-la. Nomes e leis pomposas sem um pé na realidade não passam disso: leis pomposas.
Quem quiser buscar exemplos ou sugestões de práticas bem sucedidas, independente de leis e de políticas efetivas de leitura , há muita coisa boa acontecendo. Tomo a liberdade citar três exemplos, entre tantos outros, de programas que mesclam a ação de educadores com o apoio institucional: o Programa de Salas de Leitura das Escolas Municipais de São Paulo, com bons trinta e dois anos de existência; O Projeto Ler e Escrever: Fonte do Saber das Escolas Municipais de Atibaia; e o Programa Escola Leitora do Estado do Rio Grande do Norte, tendo à frente educadores do IDE-Natal, RN.
Nem tudo está perdido. Basta colocar de vez a leitura no centro do projeto pedagógico da escola.